Temas socioambientais se descortinam nos produtos audiovisuais da Forest
“Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.”
O Fotógrafo, Manuel de Barros
Sob a luz da manhã, o fotógrafo prepara seu equipamento. A lente da câmera enquadra uma paisagem que nunca mais será a mesma. Há milhares de anos, Heráclito percebeu que não se pode entrar no mesmo rio duas vezes porque mudam as suas águas e a pessoa que o adentra já não é mais a mesma. O fotógrafo sabe que o olhar que recai sobre o rio também não se repete. Ajustados o foco e outras configurações da máquina, o clique registra um momento singular.
Thiago Foresti, fotógrafo há quase 10 anos anos, viveu essa experiência na pele. Foram 20 dias atravessando o rio Juruena a remo, uma aventura que buscou capturar a vida que permeia os mais de 1.200 quilômetros do afluente. Nas águas do Juruena, título da exposição que reuniu as imagens desse período, Thiago se tornou outro fotógrafo. Suas lentes registraram paisagens ameaçadas por empreendimentos hidrelétricos, obras que podem modificar a natureza para além das nuances de um olhar.
Desde então, Thiago já realizou mais de 10 expedições fotográficas, revelando a fauna e a flora em diversos pontos do país. Sua viagem mais recente até o Arquipélago de Alcatrazes, no litoral Norte do estado de São Paulo, capturou imagens para um vídeo sobre as Unidades de Conservação brasileiras. Na hora do clique, Thiago busca se distanciar para causar o menor impacto possível na cena. Seu maior desafio, e o diferencial de seu trabalho, é a capacidade de realizar sozinho o trabalho de uma equipe. Além de fotografar, ele também faz vídeos e imagens aéreas.
Mais do que ilustrar a realidade, as fotografias fazem parte de nossa existência social. Ulpiano de Meneses, Professor Emérito da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), defende que as imagens são ‘coisas’ de dimensões, usos e funções variados. Podem ser fonte de informação e documento histórico, podem provocar efeitos diferentes e assumir novos papéis. De acordo com Meneses, essa produção de sentidos de uma mesma imagem acontece a partir das interações sociais. É preciso situá-la em contextos para interpretar as suas variadas nuances de sentido.
Thiago trabalha para produzir imagens que podem mudar a perspectiva das pessoas, seja por meios analógicos (sua primeira experiência com a fotografia), seja com equipamentos de última geração. Na Forest, ele encontrou o espaço para buscar novos ângulos e construir esse repertório visual. A agência aposta nas ferramentas audiovisuais para transformar como as pessoas enxergam e interagem com o mundo socioambiental. Um vídeo sobre as Unidades de Conservação, por exemplo, pode modificar a percepção da natureza e estimular a defesa das áreas de proteção ambiental. O contato com realidades distintas e distantes por meio de uma série de fotografias também pode despertar um novo olhar no espectador.
Para Thiago, “99,9% dos momentos são ordinários, mas 0,1% são mágicos – e são esses momentos que um fotógrafo aspira registrar.” As imagens da Forest transmitem o indizível: o cheiro de terra molhada depois da chuva, a umidade quente da floresta e a sensação de pertencimento à natureza.