Paisagens preenchidas pela monocultura geram reflexão sobre o caminho que estamos trilhando (Foto: Thiago Foresti/Forest Comunicação)
Do alto, vemos a uniformidade da plantação de soja, contrastada com a beleza das árvores do Cerrado. A floresta em pé com árvores tortas, mas majestosas. Em meio à beleza exuberante e diversa do bioma, surgem os vestígios do fogo e do desmatamento. A dimensão do estrago só pode ser compreendida quando vista de cima: milhares de hectares de vegetação dão lugar às lavouras e às pastagens da nova fronteira agrícola brasileira. Com a ajuda de um drone, um cenário de pouca esperança é revelado.
As imagens penetram nossa vida e, antes das palavras, impactam e sensibilizam. O Thiago Foresti, fotógrafo da Forest Comunicação, entendeu como nunca os resultados da ação humana predatória ao registrar vídeos aéreos durante a expedição para o MATOPIBA. A sigla representa os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região onde o avanço do agronegócio compromete o ecossistema. Essas e outras imagens conversam diretamente com o nosso imaginário e geram uma percepção carregada de emoção. Há um diálogo em curso entre o repertório cultural e visual criado por cada indivíduo. A explicação é da mestra em Comunicação Social, Adriana Holmer.
De acordo com a doutora em educação Carmen Sílvia Sanches Justo, a fotografia nos permite observar o nosso entorno. Registramos e refletimos sobre nosso papel no mundo. No MATOPIBA, as marcas do fogo deixam um vazio onde antes havia vegetação. O terreno desabitado pelo desaparecimento dos animais nos faz pensar sobre os limites da nossa ação e para qual direção queremos seguir. Para Larissa da Silveira, técnica na área de educação ambiental da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador – BA, a fotografia, assim como outras modalidades de arte, estimula a integração do indivíduo com o meio que o cerca, exercício fundamental para a conscientização sobre as questões socioambientais.
Outros ângulos, outros planos e outras visões. Para o Thiago, as imagens aéreas dão uma dimensão dos problemas e ajudam os pesquisadores a pensar soluções para questões ambientais. O uso dessa tecnologia no cinema independente e na fotografia artística ainda está se popularizando. O drone exerce um papel importante ao tornar acessível um artifício antes exclusivo de superproduções com o orçamento para aviões e helicópteros. Segundo Attilio Zolin, fotógrafo que já participou de produções da Forest Comunicação, com o drone, “você consegue ter o mesmo resultado que teria no helicóptero com um custo menor e menos perigo”.
Surge um novo olhar, que equilibra distanciamento e aproximação. É distanciamento quando mostra a extensão do problema. É aproximação quando coloca toda a grandiosidade ao alcance do olho humano. Na viagem ao MATOPIBA, fica mais fácil enxergar o impacto da produção de soja no Cerrado. Ao percorrer as grandes plantações, lado a lado às paisagens naturais, é possível calcular a degradação gerada pela monocultura. O drone revela a gravidade da interferência humana na natureza para além dos números frios de relatórios científicos. A exposição às imagens choca e gera o desejo de mudança. É preciso ver para crer.