Bancos de imagem podem organizar lugares de memória
Nos ônibus, nas repartições públicas, nos shoppings, nas escolas, em todos os lugares. Quer se queira controlar ou estimular. As telas digitais surgem por todos os cantos, até dos locais menos esperados. A mensagem no display do celular, a cotação do dólar no monitor do elevador, a animação educativa no coletivo e as notícias – oficiais e questionáveis – na janela da rede social aberta no laptop. A mídia digital alterou a nossa relação com o tempo e o espaço.
“O mundo passou a fluir não apenas de modo continuado, mas também de forma multilinear e personalizável, nas muitas telas que compõem o nosso contemporâneo de mídias convergentes, múltiplas interfaces e plurivocalidades”, explica o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisador sênior do Laboratório de Jornalismo Convergente, Marcos Palacios.
O pesquisador lembra que a convergência e, em alguma medida a onipresença, dos meios de comunicação digital gera a sensação da ‘vida em tempo real’. A grande ruptura gerada pela internet é o espaço virtualmente ilimitado. Tudo que caí na rede pode emergir, em um outro momento, como um remix ou mashup de conteúdo.
Neste emaranhado quase infinito de possibilidades, se apresenta a questão de como estes lugares de memórias (que possuem a intenção de externalizar e registrar as informações) serão acessados em um futuro próximo. A contribuição da Forest para a sobrevivência de conteúdo socioambiental é a criação de um banco de imagens no Flickr. As fotografias capturam momentos dos Jogos Indígenas, de atividades de educação ambiental e do cotidiano às margens do rio Juruena em Mato Grosso.
Mas não se engane: os álbuns não permanecem intocáveis. Os sentidos se alteram continuamente de acordo com as vivências no dia a dia. Como lembra a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marialva Barbosa, o passado não é fixo, sendo sempre interpretado a partir dos acontecimentos presentes. É também olhando para as memórias passadas que projetamos os cenários futuros.
Um álbum criado inicialmente para relatar as dificuldades econômicas da etnia gaviões no Pará exibe também uma fotografia do prato berarubu. Para o internauta que vasculha o banco de imagens, a foto agora se relaciona com as tradições culinárias indígenas – e menos com cálculos econômicos. O interesse será pela palavra que em tupi significa “forno subterrâneo” e pelo modo de preparo da iguaria, misturando beiju e carne de caça. Quiçá as imagens despertem o desejo por um futuro que preserve e valorize as culturas indígenas.
A imersão de novos sentidos pode significar também parcerias. É quando o telefone da Forest toca e a voz do outro lado explica que precisava exatamente daquela fotografia para um evento. Surge, então, a possibilidade de compartilhar imagens e imaginários!