A Forest estreia na ficção a partir de minissérie sobre o trabalho escravo

Os personagens não existem na vida real, mas podem ser encontrados com outros nomes nos semáforos de grandes cidades, no meio da Floresta Amazônica ou na rede de tráfico de mulheres

Um olho mecânico a capturar a realidade. Por muito tempo, o cinema foi compreendido deste jeito. O crítico e cineasta Jean-Claude Bernardet lembra das primeiras tomadas dos irmãos Lumière, como o trem chegando à estação. Era um pedaço do cotidiano registrado em película com uma forte característica documental. A linguagem do cinema ficcional foi criada lá para 1915 e valorizou a possibilidade de contar “estórias”.

Na ficção, por exemplo, o controle do ambiente pela equipe de produção é muito maior. O diretor da minissérie “Cidade Invisível”, produzida pela Forest Comunicação, Thiago Foresti, lembra da importância de controlar a luz, o clima, o cenário, os figurinos e as pessoas no set de filmagem. “Foi a primeira ficção da Forest e tudo neste universo foi um desafio, desde contratar os atores até descobrir quais são as funções do audiovisual ficcional.”

experiência do Thiago era com obras de documentário, quando uma equipe menor vai a campo com uma missão bem objetiva: filmar para posteriormente editar o material. Geralmente não há a necessidade de alterar a disposição dos elementos na locação e, em produções independentes, é comum que a equipe seja formada por dois profissionais para captar as imagens e o som respectivamente.

Na ficção é diferente, a mesma cena é gravada várias vezes a partir de câmeras com recortes de planos e ângulos diversos. A equipe é dividida nas funções de direção, produção, fotografia, arte, som, edição e finalização. Cada núcleo pode contar ainda com coordenadores, gerentes, assistentes e operadores.

Mas, no mundo da televisão e do cinema, nada é tão estático. As fronteiras entre ficção e documentário se embaralham constantemente. Uma tentativa de entender a ficção é a partir dos mundos criados pelas narrativas. Segundo a pós-doutora em Televisão Elizabeth Bastos Duarte, existem três tipos de realidade na programação da telinha: o regime de crença da verdade (telejornais e documentários); a suspensão do regime de crença (telenovelas e seriados) e o regime de crença de visibilização plena (reality shows). A ficção se pauta na suspenção do regime de crença e busca a verossimilhança: a história aparentar ser real.

Atrizes representam as histórias de exploração de mulheres (Foto: Ana Luiza Meneses)

Na criação da “Cidade Invisível”, a ser exibida em 2017 na televisão, a busca pela verossimilhança contou com a expertise da Forest. “A gente já trabalhava há algum tempo com a OIT e ouvia as histórias dos resgates de pessoas em situação de trabalho escravo. A gente conhecia esta realidade e, quando surgiu o edital do PRODAV, consideramos uma boa aproveitar esta experiência”, explica Thiago.

As várias faces da escravidão contemporânea são apresentadas na minissérie: o aliciamento para o desmatamento da Amazônia, a exploração sexual de mulheres, o trabalho infantil e o desrespeito aos direitos trabalhistas apesar das formalidades legais. “A gente queria mostrar o máximo de casos possíveis. Como eram cinco episódios, selecionamos cinco personagens para retratar as realidades diferentes”. É assim que, a cada novo capítulo, um protagonista assume a história da minissérie e, a partir da ficção, a Forest retrata uma realidade concreta de violação de direitos sofrida por 1,8 bilhão de pessoas de 2002 a 2011.